Um vagão trancado durante a noite, quinze passageiros desconhecidos um para com o outro, uma nevasca que impede o expresso de seguir viagem: quando seria impossível alguém entrar ou sair do vagão: um assassinato. Entre aqueles quinze estranhos, o maior detetive belga decidiu lidar com o caso e encontrar o culpado enquanto o expresso não podia se mover.
E com uma premissa facilmente explicada Agatha Christie escreveu o maior espécime do do romance policial. Falo sem medo: esse é, provavelmente, um dos melhores livros que você poderia ler em sua vida. Sherlock Holmes que me perdoe, mas Hercule Poirot ganhou o pódio com seu bigode engomadinho.
Um clássico Whodunnit (premissa cujo foco é descobrir o responsável pelo crime), Assassinato no Expresso do Oriente consegue surpreender e emocionar enquanto cumpre todos os aspectos desse subgenêro: um morto pouco simpático, um detetive espetacular, suspeitos cada vez mais interessados na morte da vítima, uma boa e surpreendente explicação que assombra mesmo os que imaginavam saber o que aconteceria.
Hercule Poirot é um ótimo detetive. Bravo quando percebe que o assassino pode ser um amador, animado quando se vê desafiado, desinterressado em reviravoltas que animam seus colegas e amante dos detalhes que outros não são capazes de enxergar: Hercule Poirot é, junto ao nosso amado e já citado Sherlock Holmes, um dos melhores detetivos da literatura mundial. Além de extremamente inteligente, eis um belga divertido.
O único erro desse livro, em minha singela opinião, só pode ser encontrado com uma leitura crítica: o racismo. Personagens podem ser rascistas, assim como podem carregar quaisquer outros traços vilanescos e imorais, o problema é quando a autora quer passar uma mensagem racista. E este é o caso. Agatha Christie é a Rainha do Crime, infelizmente esse crime é o racismo. Antisemita sempre que tem chance, o preconceito contra negros e, em especial, latinos sempre tem espaço em suas histórias.
Nada consegue apagar o gosto amargo que isso deixa em nossa boca, por isso venho explicar qual o motivo de ter dado nota máxima ao livro: um fruto de sua época deve ser analisado como um fruto de sua época. Não podemos cobrar de um livro publicado em 1934 a moral que hoje consideramos o mínimo de qualquer cidadão respeitável: mas podemos, isso sim, julgar, compartilhar, e não endeusar esse comportamento. Esse é um livro incrível, recomendo a qualquer leitor que carregue seja lá qual bagagem de leitura pois ele pode ser admirado por um iniciante no gênero ou por um especialista, e a leitura crítica garantirá que saiba distinguir o joio do trigo.
Resta elogiar a edição publicada pela Harper Collins. Uma boa fonte com tamanho muito confortável se encontra em um livro de capa dura muito bem feito. Uma capa linda, que brinca com alguns detalhes da narrativa, e uma boa tradução e revisão marcam um trabalho excelente por parte da editora. Um leve adendo ao fato de que tenho a coleção de Sherlock Holmes publicada pela mesmo editora e posso garantir que não foi um acerto em apenas um livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário